gostava de ter força suficiente para simplesmente deixar os pés no chão. gostava ter sido capaz de te limpar as lágrimas ou tapar os ouvidos aos teus soluços e gemidos no meu ombro. ter dito as palavras certas, de modo coerente.
a verdade é que as minhas pernas tremiam e eu apertava com força os olhos na tentativa de não deixar nenhuma lágrima escapar. nem deste conta.
gostava de ser forte. sei que inverti o papel e aquele foi um cenário estranho, em que em tempos era eu quem chorava no teu colo e me dizias que ía ficar tudo bem, sempre com um sorriso. agora não, estavas ali, a apertar-me com força, a molhar-me a camisola com as tuas lágrimas grossas, a soluçar ao meu ouvido enquanto o teu abraço tremia. não sei quem quero enganar. ainda é tudo muito fresco, ainda tenho o coração apertado e ainda é difícil manter-me de pé nestas alturas. tinha uma vontade enorme de me render, deitar tudo cá pra fora, mas tu apenas esperavas de mim aquilo que em tempos me deste. um refúgio qualquer, um abraço apenas e uma palavra de conforto.
mas fiquei com a tarefa complicada, e agora eu não podia dizer que ía ficar tudo bem, porque não vai. o mais fácil foi seguir os teus próprios pensamentos, aquilo que já sabias. desviar-me de tudo aquilo em que acredito, fechar os olhos ao que para mim é a verdade e dizer-te apenas aquilo que querias ouvir.
foi difícil, e ainda tenho o coração a tremer. mas tão cedo não esquecerei o pesar da tua cara com força no meu ombro e as tuas mãos a apertarem-me com força, ou em busca dela, de algo que nem eu tenho.