talvez tenha sido o destino, mas encontrei uma pen perdida num casaco de inverno, não resisti em vir a correr para aqui e ver o seu conteúdo. fiquei mesmo feliz quando vi que estavam ali todas as fotografias que tinha perdido depois do pc se ter avariado, nem sei como é que aquilo foi ali parar. fotografias de há 3 ou 4 anos, fotografias excelentes que pensei que nunca mais iria recuperar. revi pasta por pasta, momento por momento, até uma felicidade enorme encher o meu coração ao ver ali aquela pasta, as fotos de há dois verões, o meu primeiro grande verão.
respirei fundo, fechei os olhos, recostei-me na cadeira, enchi-me de coragem e abri-a. voltei a abrir os olhos, e bastaram uns segundos para se voltarem a fechar, inundados em lágrimas que me escorriam pela face, não sei explicar o que aconteceu, nem a força que a gravidade tinha no meu coração que me queria cair aos pés, foi inexplicável como numa fracção de segundo todo o verão trespassou o meu subconsciente, como uma cena de filme, senti tudo à minha volta, todos os cheiros, todos os sons, todo o calor, todas as texturas. recordei o perfume daquela praia, misturado com o perfume das suas camisolas. lá também estava uma foto dele, várias, e não foi nada surpreendente a forma como me lembrava de cada um dos seus traços. estava tudo bem guardado lá atrás, naquela ferida que foi passando aos poucos e nunca mais foi tocada, nunca mais a caixinha foi aberta, congelou tudo de uma maneira ainda mais concentrada, parecia que estava tudo à espera de explodir. e explodiu mesmo. e eu que pensava nunca mais teria oportunidade de olhar para aquelas imagens e abrir a caixinha.
 prometo a mim mesma não a abrir durante muito tempo, porque depois passará a ser apenas uma caixinha, banal como todas as memórias que depois de vistas e revistas ficam desgastadas e sem cor. vou deixar tudo assim, para um dia, sem querer, quando a voltar a abrir, relembre o sabor agridoce das lágrimas que hoje chorei, o sabor a saudade, a felicidade irrecuperável.